
Análise: Morangos Com Açúcar regressa aos ecrãs com episódio conturbado
Chegou finalmente mais uma temporada de Morangos Com Açúcar à TVI e à Prime Video. O primeiro episódio veio com algumas boas cenas, ritmo acelerado e escrita preguiçosa.

O episódio arranca com um clássico flashforward, recuando depois para o tempo atual. Aqui, as aulas já começaram, os alunos já se conhecem e não há tempo para grandes apresentações. Beatriz Frazão mantém-se como voz-off e narra o background dos três protagonistas, fruto de uma escrita preguiçosa que decide jogar-nos as informações na cara e não perder tempo com diálogos explicativos.
Os problemas financeiros da protagonista feminina do primeiro arco deste reboot (que incluiu as primeiras três temporadas) passaram agora para o protagonista masculino (Leo, interpretado por Bernardo Cascais). Um bolseiro que vê a sua bolsa em risco por uma suposta fraude nos registos bancários para atribuição da bolsa, um irmão insuportável, um despejo, uma nova morada num parque de campismo e um atraso para as audições do Curso de Artes Performativas, que o impedem de tentar a sua sorte na entrada no Curso. A competição destas duas personagens (a primeira interpretada por Madalena Aragão, lembrem-se) pela desgraça foi intensa, e no fim é difícil escolher um vencedor.

Já a protagonista feminina, Ema (Cecília Borges) sofre para aparecer no ecrã. Os mais distraídos talvez ainda nem tenham percebido bem quem é. Mas é dela o grande conflito do episódio, que envolve assédio do terceiro protagonista, Ricardo (Sebastião Varaine) e uma tentativa de violação de um desconhecido, no final do episódio.
Zé Maria, Kika, Sancho e Harry transitam das temporadas anteriores, e a sensação é que estão a mais. Não parece haver conflito suficiente para renovar estas personagens. Kika continua cansativa, um texto que faz uma rasteira à talentosa Beatriz Frazão, frequentemente acima do tom necessário.
O destaque positivo do episódio é Bernardo Cascais. A personagem tem desafios, e dos grandes, e passou por várias situações de crise ao longo do episódio. O estreante nas lides da representação mostrou-se seguro e natural. Parece que estamos na presença de um talento.

O resto do elenco parece estar à altura, mas a narrativa ainda se apresenta muito dispersa neste primeiro episódio. Cecília Borges tem pouco espaço para se mostrar, assim como outras personagens. Sebastião Varaine traz um vilão que domina as cenas em que aparece e que parece ter tanto de carismático como de detestável. Nos veteranos, Maya Booth deu um ar da sua graça, Dalila Carmo apresenta-se com a naturalidade que tanto a caracteriza e Frederico Barata agarra bem o irmão insuportável do protagonista.
De destacar negativamente, os problemas do costume. A escrita tem dificuldade em gerir o episódio, e não raras vezes somos apresentados a uma cena de gritaria desnecessária e irritante, algo que já vem das temporadas anteriores. A noção de tempo também parece difícil. Os acontecimentos atropelam-se, o protagonista é despejado, vai para o parque de campismo e perde a audição, tudo na mesma tarde. Um diálogo inicial diz-nos que as audições são "na próxima semana", e rapidamente corta para as ditas audições. Uma festa na piscina que dura há horas e se prolonga pela noite é interrompida por uma cena na escola da diretora e do diretor financeiro. Maria João Mira e André Ramalho precisam de se organizar para a coesão das cenas melhorarem.
Veremos como a temporada se constrói ao longo dos próximos 9 episódios. Para quem tiver pressa, todos estão já disponíveis no Prime Video. Para quem aguenta a espera, pode ver à segunda-feira à noite na TVI, com cada episódio disponível no TVI Player depois da sua exibição em sinal aberto.
